Pai da extensão rural catarinense chega aos 102 anos

Pai da extensão rural catarinense chega aos 102 anos

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Um dos mais famosos aniversariantes desta terça-feira, 17 de setembro, em Santa Catarina, está atrás da maioria dos fatos decisivos que transformaram a agropecuária catarinense numa potencializadora de grandes negócios, de sucesso humano e de aplausos pelo Brasil afora. Seu nome é Glauco Olinger, engenheiro agrônomo cuja longevidade o leva a completar surpreendentes 102 anos de vida, com a cuca fresca, bom humor e muitas histórias para contar.
Na sexta-feira passada, 13 de setembro, ele compareceu a um café da tarde
na Epagri onde encontrou meia centena de colegas e admiradores. Reviu muita gente e lembrou do profícuo passado profissional. O embrião da Epagri, por exemplo, é a Acaresc (Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado), fundada por ele em 1956.
Na sequência, foi secretário estadual da Agricultura e Educação, presidente
da Embrater e criador do bem-sucedido projeto da fruticultura que trouxe a maçã Fuji para Santa Catarina e tornou o estado referência nacional nesse segmento.
Impossível deixar de citar sua decisiva atuação como professor e diretor do Centro de Ciências Agrárias da UFSC, pois nela criou e organizou o modelar sistema de extensão rural em todas as regiões catarinenses.

Disciplina ajuda a ser longevo

Glauco Olinger abandonou o cigarro de palha e o cachimbo quando descobriu os males que causavam. Nas refeições, sai da mesa antes de se sentir farto, eliminou o açúcar e o sal, faz exercícios de memória antes de dormir “para manter os neurônios ocupados”, e caminha regularmente pelas ruas próximas de seu apartamento, na av. Beira-mar Norte, em Florianópolis. Consome diariamente várias frutas e legumes, sem nunca deixar de comer entre elas uma maçã Fuji.

Vida longa o tornou testemunha da História

Filho de um fazendeiro, ele nasceu em Lages, na Serra catarinense, em 17 de setembro de 1922, ano em que nos Estados Unidos o gângster Al Capone foi preso e a Ku Klux Klan continuava sua expansão, aterrorizando as comunidades negras. Sua longevidade o transformou numa testemunha privilegiada da história, inclusive a de Santa Catarina, pois é apenas quatro anos mais velho que a Ponte Hercílio Luz, inaugurada em 1926.
No ano seguinte, quando ainda trajava calças curtas, boa parte dos brasileiros festejou a inauguração da primeira rota de avião com passageiros no Brasil, fato importantíssimo do qual Glauco por certo nem tomou conhecimento. E, se a televisão aberta já estivesse funcionando, o pequeno lageano certamente teria perdido o fôlego com as imagens do Zeppelin, o dirigível alemão sobrevoando Recife, capital de Pernambuco, em 22 de maio de 1930. No mesmo ano, a Revolução de 1930 colocaria Getúlio Vargas na presidência do Brasil.
Quase duas décadas depois, o tempo passou e em 1946 nosso virginiano vivenciou um momento emblemático: a formatura em Engenharia Agronômica na Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais. Estava com 24 anos de idade, recém-diplomado, recebeu um convite para retornar ao estado natal.
“Fui na Secretaria de Agricultura falar com o diretor de Administração, um lageano, o doutor Arruda e ele confessou que estavam atrás de engenheiro agrônomo. Precisavam de professor em Canoinhas e Lages”, relembra. Aceitou a oportunidade, no entanto, permaneceu no município serrano menos de um ano, até 1948. Ganhava dinheiro só para pagar o hotel, não sobrava nada. Foi quando houve concurso para o Ministério da Agricultura e se inscreveu. Classificou-se em primeiro lugar e recebeu do ministério a possibilidade de escolher onde queria trabalhar em qualquer lugar do Brasil. Disse que desejava atuar no fomento agrícola de Santa Catarina. A sede era em Florianópolis. Então, em 1949, mudou-se para Florianópolis, onde começou a trabalhar ganhando o dobro.
“Sempre tive muito mais sorte do que mérito. E reconheço que tive uma sorte tremenda. Sempre estive cercado de gente competente, trabalhadora e, sobretudo, honesta”, avalia o agrônomo, exagerando na modéstia. Sorte, na verdade, quem tiveram, foram os catarinenses, pois a face mais conhecida de Glauco, a de “ pai da extensão rural catarinense”, começava a se delinear naquele momento.

Textos: Imara Stallbaum
Fotos: Antonio Carlos Mafalda

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