Camboim: um rio que virou exemplo de cuidado com a mata ciliar
Protegido pela generosa sombra de pés de uva japonesa, canela preta, pessegueiro brabo, guabiroba e angico, o produtor rural Gelain Normelio Barp, 65 anos, é todo orgulho quando fala sobre um rio que a partir de 2011 ajudou a salvar. Trata-se do Camboim, que passa por sua propriedade de pouco menos de 21 hectares, na Linha Canela Gaúcha, em São Miguel do Oeste, Extremo Oeste catarinense.
Onze anos atrás, quando estava ameaçado de morte, o curso d`água deu nome ao Projeto do Rio Camboim, deflagrado pelo governo do Estado através da Epagri, Casan e Polícia Militar Ambiental, em conjunto com a prefeitura de São Miguel do Oeste. “Aos poucos vieram novos parceiros”, relembra Simone Bianchini, engenheira agrônoma do escritório da Epagri na prefeitura local. Entre os representantes da iniciativa privada somaram-se Sicoob, Instituto Catuetê, Escola do Campo Waldemar Von Denz, Hotel Figueiras e construtora Bolfe.
Focada na recuperação das matas ciliares do rio que abastece os habitantes do município, a iniciativa, se estendeu por uma década até transformar-se num bem-sucedido case de Educação Ambiental. Além, é claro, de mostrar o peso da cooperação entre o poder público, a iniciativa privada e a comunidade na proteção da natureza:
– Hoje a água do rio é limpa. Nosso sucesso influenciou escolas e prefeituras de outros municípios – atesta seu Barp, cheio de orgulho, olhando para a cerca que isola uma faixa de cinco metros em torno do rio em sua propriedade, o que evita a entrada de animais.
Baseado no êxito do projeto e dos outros que surgiram influenciados por ele, há mais de 10 anos o governo de Santa Catarina disponibiliza recursos para os produtores rurais protegerem as matas ciliares de suas propriedades.
Funcionária da prefeitura de Bandeirante, município localizado a 15 quilômetros de São Miguel, a engenheira agrônoma Paula Stringhini por certo não ignora o quanto as matas ciliares são importantes.
Nestes tempos em que o Extremo Oeste arde sob temperaturas cuja sensação térmica supera os 40ºC, a água lá virou artigo de luxo. Boa parte dos produtores de suínos e aves da região espera a chegada dos caminhões das prefeituras e da Defesa Civil do Estado para dar de beber aos animais. Diante do cenário, Paula está sempre de olho no nível dos rios que abastecem Bandeirante. Por isso, ela e a extensionista social da Epagri no município, a pedagoga Francisca Freiberger, costumam realizar longas caminhadas exploratórias.
De incursão em incursão como as diversas já feitas ao Arroio Bandeirante, hoje praticamente seco após o ponto de captação de água da Casan, a dupla comprova que investir na proteção de matas ciliares é um bom negócio. Preservada, essa vegetação ajuda a evitar que a cada verão com pouca chuva os rios de vazão razoável se transformem em fios de água correndo sobre um leito seco cheio de pedras.
Texto: Imara Stallbaum
Fotos: Antonio Carlos Mafalda
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