Vime em tempos de pandemia
Para encontrá-los, basta seguir o som da conversa incessante, entrecortada por risadas, trocadas, sem dúvida por interlocutores distantes vários metros um do outro numa área rural existente no distrito de Cerro Baio, no município de Rio Rufino, na serra catarinense. Ou então seguir a direção dos objetos que encontramos no insalubre acesso até as vozes. Não é difícil concluir que os pertences estão lá certamente porque seus donos chegaram ao raiar do dia e foram sentindo calor com o passar do tempo e com a intensidade do trabalho.
Como se estivéssemos vivenciando a história de João e Maria, no lugar de migalhas de pão vamos encontrando capacetes de motociclistas, depois casacos de moletons pesados, blusões… Tudo acomodado e pendurado sobre moitas e galhos de arbustos e pilhas de vime que nos fazem enfrentar uma verdadeira corrida de obstáculos por um caminho onde feixes de vime é o que não faltam.
Por fim, Andrea Back, técnica agrícola do escritório da Epagri local, que participa da incursão, nos apresenta aos donos das vozes. São 11 trabalhadores rurais que foram contratados pelo dono da propriedade para cortar 20 toneladas de vime. Eles vivem a 10 quilômetros dali, na Comunidade do Espírito Santo, cujos moradores asseguram tratar-se de uma comunidade quilombola. Todos usam máscaras.
O mais falante do grupo, Antônio Marcos da Silva, 38 anos, informa que dependendo do grau de dificuldade enfrentada ganharão entre R$ 0,25 e R$ 0,30 pelo quilo da haste flexível utilizada na fabricação de móveis e cestaria.
Texto: Imara Stallbaum
Fotos: Antonio Carlos Mafalda
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